POETRIX

dos males, o menor

Textos

MELHORES TERCETOS DE CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
MINIVERSOS

Tudo tem limite
exceto
o amor de Brigitte.

Tevê colorida
fará azul-rósea
a cor da vida?

Última atração na areia
do Leme:
a tiro, mata-se a baleia.

7 anos de idade.
Muro de Berlim
é eternidade.

Biafra: a guerra come
a safra
de sua própria fome.

Separatismo espanhol:
lado do escuro,
lado do sol.

Quem papa a pílula
poupa parto, papinhas,
porém perde parúsia.

Se o Papa ganha a Parada
você me garante
que a Amazônia será povoada?

Às doenças mortais
junta-se outra mais:
transparente.

Estruturas: afinal
serão reformadas
com soldo integral?

Bruxuleia o ciro votivo
a Nossa Senhora
do Facultativo.

O pintor a meu lado
reclama:
Quando serei falsificado?

A moda cigana
é passada a limpo
na Limpeza Urbana?

Cautela: em agosto
não vire o rosto
ao rei da vela.

No festival da canção
fica abafadinho
o ai da inflação.

A reforma universitária
prevê o curso
da reforma universitária.

O censor olhou-se
no espelho e censurou-o:
Que horror!


Carlos Drummond de Andrade in Amar se Aprende Amando

  

Em seu último livro, publicado após sua morte - FAREWELL - Drummond nos legou uma série de tercetos com a cara do poetrix: com título, máximo de 30 sílabas métricas, três linhas. Vejam:

TRANSVERBERAÇÃO DE SANTA TERESA (Bernini)

Visão celestial, doce delírio.
Da cabeça aos pés nus
êxtase (orgasmo?) relampeia.



CARNAVAL DE ARLEQUIM (Miró)

Descobri que a vida é bailarina
e que nenhum ponto inerte
anula o viravoltear das coisas.


AS TRÊS GRAÇAS (Rubens)

Curvilíneos volumes se consultam
e concluem:
Beleza é redundância.


PIETÁ (Miguel Ângelo)

Dor é incomunicável.
O mármore comunica-se,
acusa-nos a todos.


A DUQUESA DE ALBA (Goya)

Ser o cachorrinho da Duquesa
é de certo modo
ser uma partícula da Duquesa.
Poetrix
Enviado por Poetrix em 16/11/2008


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